Tem uma história que guardo na memória, de quando menina na casa de minha vó materna aprendi fazer o chá de brasas. Engraçado como tem coisa que a gente não esquece, passa o tempo e vez em quando essas lembranças voltam e nos fazem sorrir, e a história do chá de brasas é uma delas
Um tempo atrás comentando sobre memórias de família com a amiga Carla Maica que publicou um post sobre isso, e está aqui no seu blog Cucina Artusiana, nesta conversa mencionei sobre essa minha lembrança - de quando aprendi fazer o chá de brasas, ela ficou curiosa e me sugeriu que fizesse um post sobre . Eu prometi publicá-la quando tivesse uma receita bem gostosa de chá para trazer para vocês. E este dia chegou, vou contar a história do "chá de brasas" que penso ser a minha primeira experiência culinária.
Quando criança na casa de meus avós era costume todas as noites a família se reunir depois do jantar, para contar as novidades do dia e assim esperar o sono vir, eles dormiam cedo porque levantavam muito cedo, pois antes do sol sair já iam para o eito. Enquanto os adultos contavam sobre suas lutas diárias, as crianças brincavam, mas teve uma noite que foi diferente, fazia frio e as crianças estavam meio encorujadas quando meu tio Dário, talvez para nos animar ou tentar espantar o frio, inventou de fazer o tal chá. Dos primos que participaram desta aventura gastronômica só me lembro da minha prima Alzira, (éramos da mesma idade, e onde estava uma, estava a outra) dos outros não me recordo quais eram, mas a cena daquele momento ficou gravado em minha mente.
A cozinha da minha vó era ligada à despensa, nessa despensa existiam grandes caixas de madeira onde eram armazenados os cereais básicos ( arroz, feijão, farinha de trigo, fubá), latas de gordura de porco com suas carnes fritas dentro, essa era a única forma de conservação, pois naquele tempo não existia por lá energia elétrica, muito menos geladeira. Varais pendentes presos no teto com linguiças produzidas para o consumo ficavam à mostra, também pendente do teto cestas cheias de ovos que eram para o uso diário e o excedente para a venda. Moedor de café preso sobre um tronco de madeira que era fincado no chão de terra batida, cilindro também preso em madeira e fincado no chão. Na cozinha tinha uma mesa grande onde preparava todas as coisas, inclusive onde lavavam os trens de cozinha com a ajuda de duas bacias grandes - uma para lavar outra para enxaguar.
É este cenário que conservo nítido em minha mente daquele momento vivido em minha infância, onde a curiosidade misturava-se com a alegria de descobrir algo novo.
O fogão à lenha ainda conservava suas brasas acesas cobertas por uma camada de cinzas, na chapa uma chaleira de ferro com água quente que sempre estava ali para uma eventual necessidade. À roda do fogão estava eu, minha prima Alzira, mais dois primos e meu tio que iria nos ensinar fazer o tal chá. Cada qual com uma caneca de ágata na mão, estávamos atentos para seguir o passo a passo. E aqui vai a receita como foi ensinada e como a fizemos: colocamos açúcar cristal (açúcar refinado era um luxo para poucos) na caneca. Com uma tenaz escolhemos duas ou três brasas vivinhas (essa era a parte mais perigosa), assopramos para tirar toda cinza e as deitamos sobre o açúcar para queimá-lo e assim caramelizar. E por fim juntamos água fervente, retiramos o carvão (brasa apagada), e estava pronto o chá de brasas.
Eu não me lembro do gosto mas devia estar horrível. Era uma receita bem tosca, um arremedo se comparado com os chás que temos hoje à nossa disposição e também um sacrilégio para os japoneses que apresentam seus chás maravilhosos com todo aquele cerimonial com tradição milenar.
Tosca ou arremedo não importa, o que fica na verdade é a lembrança de um momento que vivi em família no aconchego da casa de minha vó, que me faz sentir uma baita saudade e a consciência de que sãos esses momentos que vivemos é que nos dão sentido à nossa vida e nos fazem pessoas mais felizes.
Essa lembrança como tantas outras dançam deliciosamente em minha mente fazendo um carinho no meu coração.
E agora a receita do chá de maçã, gengibre e limão siciliano que eu trouxe para vocês, este eu garanto que é delicioso.
Ingredientes:
1 maçã
um punhadinho de cravo da índia
4 colheres (sopa) de açúcar
1 pedaço de gengibre fresco
1 limão siciliano
750 ml de água filtrada
Modo de preparar:
Descasque a maçã (reserve a casca), pique em cubinhos bem pequenos e coloque o suco de meio limão siciliano. Reserve. Retire a casca do limão siciliano mas tomando o cuidado para não deixar a parte branca (para não amargar o chá). Reserve.
Em uma panela coloque o açúcar, a casca da maçã, a casca do limão, o gengibre e os cravinhos. Leve ao fogo para derreter o açúcar e caramelizar. Quando estiver com uma cor dourada mas sem deixar queimar junte a água e deixe ferver por mais ou menos 10 minutos. Retire, coe e leve novamente para o fogo. Escorra bem a maçã que estava macerando no suco do limão e junte ao chá que está no fogo e deixe ferver por mais um pouco. Desligue e sirva quente com gotas de limão.
Um tempo atrás comentando sobre memórias de família com a amiga Carla Maica que publicou um post sobre isso, e está aqui no seu blog Cucina Artusiana, nesta conversa mencionei sobre essa minha lembrança - de quando aprendi fazer o chá de brasas, ela ficou curiosa e me sugeriu que fizesse um post sobre . Eu prometi publicá-la quando tivesse uma receita bem gostosa de chá para trazer para vocês. E este dia chegou, vou contar a história do "chá de brasas" que penso ser a minha primeira experiência culinária.
Quando criança na casa de meus avós era costume todas as noites a família se reunir depois do jantar, para contar as novidades do dia e assim esperar o sono vir, eles dormiam cedo porque levantavam muito cedo, pois antes do sol sair já iam para o eito. Enquanto os adultos contavam sobre suas lutas diárias, as crianças brincavam, mas teve uma noite que foi diferente, fazia frio e as crianças estavam meio encorujadas quando meu tio Dário, talvez para nos animar ou tentar espantar o frio, inventou de fazer o tal chá. Dos primos que participaram desta aventura gastronômica só me lembro da minha prima Alzira, (éramos da mesma idade, e onde estava uma, estava a outra) dos outros não me recordo quais eram, mas a cena daquele momento ficou gravado em minha mente.
A cozinha da minha vó era ligada à despensa, nessa despensa existiam grandes caixas de madeira onde eram armazenados os cereais básicos ( arroz, feijão, farinha de trigo, fubá), latas de gordura de porco com suas carnes fritas dentro, essa era a única forma de conservação, pois naquele tempo não existia por lá energia elétrica, muito menos geladeira. Varais pendentes presos no teto com linguiças produzidas para o consumo ficavam à mostra, também pendente do teto cestas cheias de ovos que eram para o uso diário e o excedente para a venda. Moedor de café preso sobre um tronco de madeira que era fincado no chão de terra batida, cilindro também preso em madeira e fincado no chão. Na cozinha tinha uma mesa grande onde preparava todas as coisas, inclusive onde lavavam os trens de cozinha com a ajuda de duas bacias grandes - uma para lavar outra para enxaguar.
É este cenário que conservo nítido em minha mente daquele momento vivido em minha infância, onde a curiosidade misturava-se com a alegria de descobrir algo novo.
O fogão à lenha ainda conservava suas brasas acesas cobertas por uma camada de cinzas, na chapa uma chaleira de ferro com água quente que sempre estava ali para uma eventual necessidade. À roda do fogão estava eu, minha prima Alzira, mais dois primos e meu tio que iria nos ensinar fazer o tal chá. Cada qual com uma caneca de ágata na mão, estávamos atentos para seguir o passo a passo. E aqui vai a receita como foi ensinada e como a fizemos: colocamos açúcar cristal (açúcar refinado era um luxo para poucos) na caneca. Com uma tenaz escolhemos duas ou três brasas vivinhas (essa era a parte mais perigosa), assopramos para tirar toda cinza e as deitamos sobre o açúcar para queimá-lo e assim caramelizar. E por fim juntamos água fervente, retiramos o carvão (brasa apagada), e estava pronto o chá de brasas.
Eu não me lembro do gosto mas devia estar horrível. Era uma receita bem tosca, um arremedo se comparado com os chás que temos hoje à nossa disposição e também um sacrilégio para os japoneses que apresentam seus chás maravilhosos com todo aquele cerimonial com tradição milenar.
Tosca ou arremedo não importa, o que fica na verdade é a lembrança de um momento que vivi em família no aconchego da casa de minha vó, que me faz sentir uma baita saudade e a consciência de que sãos esses momentos que vivemos é que nos dão sentido à nossa vida e nos fazem pessoas mais felizes.
Essa lembrança como tantas outras dançam deliciosamente em minha mente fazendo um carinho no meu coração.
E agora a receita do chá de maçã, gengibre e limão siciliano que eu trouxe para vocês, este eu garanto que é delicioso.
Ingredientes:
1 maçã
um punhadinho de cravo da índia
4 colheres (sopa) de açúcar
1 pedaço de gengibre fresco
1 limão siciliano
750 ml de água filtrada
Modo de preparar:
Descasque a maçã (reserve a casca), pique em cubinhos bem pequenos e coloque o suco de meio limão siciliano. Reserve. Retire a casca do limão siciliano mas tomando o cuidado para não deixar a parte branca (para não amargar o chá). Reserve.
Em uma panela coloque o açúcar, a casca da maçã, a casca do limão, o gengibre e os cravinhos. Leve ao fogo para derreter o açúcar e caramelizar. Quando estiver com uma cor dourada mas sem deixar queimar junte a água e deixe ferver por mais ou menos 10 minutos. Retire, coe e leve novamente para o fogo. Escorra bem a maçã que estava macerando no suco do limão e junte ao chá que está no fogo e deixe ferver por mais um pouco. Desligue e sirva quente com gotas de limão.